Grão polivalente; O tempo confirmou as propriedades terapêuticas e nutricionais da semente do linho: ela atua na prevenção de doenças e oferece proteção à saúde das células
Cristina Menechelli
Planta de muitas qualidades, o linho é um antigo aliado do homem. Cultivado pelas civilizações mesopotâmicas, constituía matéria-prima principal na fabricação de tecidos. Múmias egípcias de 5000 anos eram enroladas em linho, o mesmo que servia de traje para os altos religiosos judeus da era bíblica. Na Grécia Antiga, servia para a confecção de roupas, velas de barcos e redes de pesca. Seus diversos usos foram descritos na Odisséia, de Homero. O grande historiador romano do século I, Plínio, o Velho, exaltavao como um presente da natureza. Herbácea anual integrante da vasta família das lináceas, ele cresce entre 50 e 100 centímetros de altura e dá pequenas e belas flores azul-claras. A origem do linho é incerta, mas acreditase que seja nativo da Europa e do leste da Ásia. Ou, ainda, do Egito, onde foram encontradas as primeiras representações de seu cultivo, gravadas em tumbas.
Entretanto, não eram apenas as longas fibras a razão pela qual a planta despertava tamanho interesse na agricultura. Suas sementes, pequenos grãos reluzentes chamados de linhaça, sempre tiveram uma variedade de aplicações na cozinha e na farmacologia. Seu nome em latim reforça essa característica: Linum usitatissimum quer dizer a mais proveitosa, utilizável. Pequenina, mas poderosa, a linhaça era empregada no tratamento de diferentes enfermidades, como atestou o médico grecoromano Pedáneo Dioscórides, que viveu na segunda metade do século I e escreveu De Materia Medica, obra-referência sobre as drogas terapêuticas, consultada por farmacólogos até o século XVIII. Ele a recomendava em cataplasma de mel e figos para tratar queimaduras de sol. A antiga tradição aiurvédica, de origem indiana, com aproximadamente 5000 anos de história, também conhecia os efeitos curativos da linhaça e os explorava em emplastros para infecções de pele, furúnculos e abscessos. Na China, a linhaça era indicada em casos de constipação. Prescreviam-na também para tosses, úlceras e outras inflamações do corpo.
O passar do tempo só confirmou as propriedades terapêuticas e nutricionais da semente do linho, que dependendo da variedade apresenta cor marrom ou dourada. Fonte natural de ácidos graxos poliinsaturados, essencialmente o ômega 3, é considerada um alimento funcional, pois atua na prevenção de doenças, entre elas as cardiovasculares, além de oferecer proteção à saúde das células. A melhor maneira de usufruir desses benefícios é moê-la na hora - pode-se usar o moedor de café. Assim, vai bem na granola, com frutas, em sucos e vitaminas, cozidos e ensopados diversos, bolos, muffins e pães. Neste último caso, faz inúmeras parcerias saborosas e serve ainda como elemento decorativo.
Também pode ser adicionado a saladas, legumes e carnes e até aos molhos. O óleo de linhaça, de sabor amendoado, é consumido há tempos. Na mesa dos czares da Rússia do século XVII, era usado como ingrediente ou meio de fritura para pratos de peixes. Hoje, o Canadá lidera a produção mundial da linhaça, responsável por 80% das cerca de 2 milhões de toneladas lançadas anualmente no mercado. A China e os Estados Unidos vêm em seguida. A Europa se destaca entres seus grandes consumidores, antenados com a crescente necessidade de uma alimentação equilibrada. O milenar grão polivalente nunca esteve tão na moda